Arte da dança


A arte da dança em cada sinal vermelho
Jovens mostram que há mais que violência e drogas nas periferias
  

Movidos pela falta de oportunidade e lidando com o preconceito, jovens com idades entre 18 e 22 anos trazem na dança e cultura Hip Hop uma forma de lazer e envolvimento cultural. Eles mostram também à sociedade, um meio de conscientização a respeito da juventude pobre das periferias que em muitos casos são denominados de forma preconceituosa, como “marginais”.
      Residentes em bairros da Zona Norte do Recife, entre eles, Casa Amarela, Nova Descoberta, Bomba do Hemetério e Àgua Fria, eles formam um grupo composto de nove pessoas, chamado de UBI, um grupo de break dance que faz apresentações culturais e que nas horas vagas, no meio de chuva ou sol, vão para o cruzamento entre a Rua Amélia e a Avenida Rui Barbosa, no bairro da Jaqueira e encontram em cada sinal vermelho do trânsito, uma forma de obter alguma renda e divulgar o que eles fazem de melhor: Transmitir a Arte.
      O grupo UBI (União dos Bboys Independentes), é um grupo de Hip Hop que nasceu em São Paulo em 1999, e hoje com parcerias interestaduais, é presente em vários estados do país, entre eles Pernambuco. Foi criado em homenagem a um grupo de bboys (dançarinos de hip hop) que esteve presente no estado durante os anos 80. O estilo Hip Hop nasceu em Nova Iorque na década de 70, nos subúrbios que enfrentavam diversos problemas como pobreza, violência, racismo e tráfico de drogas, e até hoje se mantém com este mesmo intuito o de vencer o preconceito contra os jovens das periferias.
            “Muitos nos veem no sinal e não ligam para o que fazemos. Fecham as janelas dos carros pensando que somos marginais, quando na verdade só estamos ali divulgando nosso trabalho já que não temos apoio suficiente da parte de cultura da prefeitura”, diz Eddy Barbosa, um dos integrantes do Grupo. Os jovens informam que a falta de oportunidade para eles é imensa. O estilo ultimamente está em crescimento na região, mas mesmo assim as ações movidas relacionadas à cultura deixam o Hip Hop de lado, e focam em outros estilos. Eles ainda continuam que em muitos casos, são chamados para apresentações em outras localidades, e como mesmo com talento não possuem apoio, vão apenas com o dinheiro de ida e para voltar fazem o que já estão acostumados: Vão para os sinais de trânsito fazer divulgação da arte e tentar arrecadar o dinheiro da volta para a casa. Alguns deles, sem emprego, sustentam a família com o dinheiro adquirido no trânsito. “O fato é que existem não só aqui no estado, mas fora dele também, pessoas preconceituosas, que não entendem que este tipo de dança é arte. Não temos emprego, não nos dão chances, e como precisamos, vamos em busca de dinheiro e de uma forma prazerosa, com arte. Se não fosse o Break, muitos de nós já teríamos caído no mundo do crime e talvez nem mais estivéssemos aqui.”, completa Dennys César, outro integrante da UBI.
            Quem passa pelo sinal, seja a pé ou de carro, observa atento a cada movimento. A estudante Jullyana Targino (24), comenta a apresentação do grupo “É um arte muito bonita, todavia não é reconhecida uma vez que parte da sociedade não tem educação cultural suficiente para aceitar que é uma forma de trabalho e não de vagabundagem. A sociedade é preconceituosa e nem sempre vê como arte este lindo trabalho que eles fazem nos sinais’”.
            Segundo Antônio Alves, um dos membros da Associação Metropolitana de Hip Hop de Pernambuco, o Hip Hop é uma iniciativa de inclusão social e valorização cultural da periferia, onde jovens encontram nele além da diversão e entretenimento, uma forma de livrar-se da violência. “A prefeitura investe neste tipo de cultura, mas investe pouco. As periferias do estado são muitas, e a cada dia novos grupos de Break Dance são formados todos em busca de oportunidade, as quais fora do país são existentes. Então o investimento oferecido é muito pouco em relação ao que de fato é necessário”, diz Antônio.
            Enquanto as oportunidades não surgem para estes jovens que vivem nos subúrbios da cidade, a UBI está nas ruas passando para a população que mesmo diante das dificuldades há como superar tudo isso, sem desistir nunca. A cada sinal vermelho uma nova chance, uma nova história. Denny César conclui ainda “É assim mesmo. A questão é não desanimar nunca. É correria hoje, vitória amanhã".


Viviane Souza